Tudo pode e deve ser escrito!

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

SOCIEDADE escravoCRATA

Sociedade Escravocrata

As vezes via quando,

Aos prantos das mulheres e seus filhos,
A seriedade dos homens maltrapilhos,
Chegavam os negros na fazenda de meu pai.
Eram trazidos acorrentados,
Alguns até ensanguentados,
E o sorriso esboçado na face do feitor.
Levavam africanos a casa de pau a pique, senzala, chão batido,
A noite enluarada,
Subindo aos sons das jovens serenatas e,
Encondendo por trás o som dos açoites.
Pobre escravo de cultura roubada,
Imposto ao trabalho no cafezal,
De dia trabalhador, competente e esforçado,
De noite homem, sem força e maltratado.
Chorava ao ouvir o desconsolado choro,
Gritava ao ouvir o mais engasgado grito,
Do negro, ao açoite, sem defeza, exemplo,
Mero exemplo para os outros.
Tentavam fugas, peripécias e até alforria,
Pros Quilombos fugiam na maior alegria,
Se chegassem, vida nova,
Se pegos, não há vida.
Negros, negros, escravos do próprio humano,
Só que de pele clara,
Claro pra mim é a vida,
Que não é direito à uma menina branca de dez anos qual eu sou, 
É um direito de todos, tudo,
Seres humanos normais,
Escravos de seus iguais,
Erro humano desumano repetido,
Pelo Quilombo dos Palmeres combatido.
Oh escravocrata que a vida é,
Antes eu trabalhasse e sustentasse minha vida,
Pelo menos não teria a conciência encardida que tenho,
Escrava eterna do senhor de Engenho,
Seria,
Digo que faria tudo para mudar a situação,
Mas que força tenho?
Com dez anos, branca, mulher ser força na sociedade, de coração,
Possso mudar a situação?